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CAMINHOS ATÉ O BRASIL

Com a voz fraca e os olhos marejados, Miguel Saavedra ao lado de sua esposa, Jéssica Saavedra conta a sua história na Venezuela, antes do Brasil. Rodeado pelos filhos entrega detalhes de suas vidas antes da sua mudança de país.

 

“Trabalhávamos bem, tínhamos boas condições financeiras, casa, carro. Tínhamos uma vida social agradável”. Diz ele enquanto mostra uma foto onde passava férias com a família em outro país.

Miguel Saavedra chegou a Manaus em março, em busca de uma nova vida e uma situação melhor para seus filhos, abandonou tudo o que tinha na Venezuela e decidiu mudar radicalmente de cultura. Segundo ele, tudo aqui é diferente, mas se sente confortável na fase de adaptação.

 

Desde que a Venezuela entrou em crise, Miguel e Jéssica assim como todos os trabalhadores do país foram afetados diretamente e perderam tudo o que tinham, o que fez com que eles e seus filhos buscassem novos rumos.

 

“Em 2016 começou a faltar comida, pouco a pouco foi piorando, as pessoas começaram a fazer filas para poder pegar dois quilos de arroz, por duas farinhas você teria que enfrentar outra fila diferente”, afirmou Jéssica.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Crise na Venezuela

 

Os supermercados da Venezuela estão com as prateleiras vazias, os cortes de energia são tão graves que os departamentos do governo agora só abrem dois dias por semana. O sistema de saúde pública entrou em colapso, a taxa de criminalidade é uma das mais altas do mundo e a inflação desgasta rapidamente o que resta do valor da moeda.

 

“Essa crise além de ser política de insustentabilidade do presidente maduro, é uma crise que a população sofre porque a oposição tem as suas lideranças presas, sofrem repressões, os direitos civis e os direitos humanos dentro da Venezuela principalmente em Caracas estão sendo suprimidos progressivamente diante da teimosia do novo mandatário em querer continuar com uma doutrina que não apresentou resultado esperado. Crise política, econômica, social e ética se encontra a Venezuela que é um país riquíssimo que tem como petróleo a sua principal fonte de riqueza, mas que infelizmente não se transformou em benefício social, o quadro é preocupante” afirma o economista e professor, António Gadelha.

 

Família Santiago

 

Na contramão dos números que mostram um resultado triste sobre as condições dos imigrantes venezuelanos no Brasil, a família de Miguel Saavedra não está desamparada.

Em junho de 2016 Miguel, Jéssica e seu filho mais novo Samuel, visitaram a família de José Carlos, que mora em Manaus capital do Amazonas, região norte do Brasil. Conheceram toda a família Santiago e o laço de amizade foi instantâneo.

 

Quase um ano depois, Miguel voltou e trouxe a sua família e logo foram abrigados pela família Santiago, que cedeu casa e todo o apoio necessário para a família venezuelana que hoje demonstra afeto e gratidão quando falam sobre a família que os acolheu.

 

“Nós somos muito agradecidos pela família Santiago porque quando chegamos aqui eles foram a família que nos recebeu. Há muitas coisas que não cabem em seis malas e eles contribuíram, doaram esse fogão, geladeira, que nos facilita muito aqui e por isso somos muito agradecidos por esse favor” afirma Miguel. Mas esse ato não é unanimidade entre os brasileiros¸ a família Santiago relata que muitas pessoas os criticam por causa do acolhimento oferecido aos venezuelanos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A boa fama brasileira de acolher calorosamente visitantes parece desaparecer quando entra em jogo um emprego ou melhores condições de vida. É o que aponta o RDH (Relatório de desenvolvimento humano). Mesmo formada principalmente por descendentes de africanos, portugueses, japoneses, italianos e espanhóis a população apoia medidas de restrição em determinados casos. O estudo aponta que 43% dos brasileiros são contrários à entrada de estrangeiros e defendem as limitações para evitar a imigração. 45% dos entrevistados acham que a liberação só pode ocorrer caso existam empregos disponíveis e 9% são favoráveis à livre entrada. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mas apesar desses números o antropólogo Clayton Rodrigues diz que o Brasil tem acordos internacionais que respaldam a entrada dos imigrantes no país. “Muitos brasileiros não sabem, mas o Brasil assinou vários acordos internacionais como país receptor de refugiados, então politicamente desse ponto de vista das relações internacionais o Brasil é um país que recebe imigrantes. Existem vários acordos internacionais onde o Brasil fixou essa responsabilidade”.

 

 

Acolhimento

 

Muito religiosos, a família Santiago vê em sua fé em Deus e nas doutrinas do Cristianismo uma razão pelas quais os fazem sentir empatia e amor por uma família que eles conhecem a menos de um ano. “Eles nos contaram sobre a situação na Venezuela e que precisavam de alguém que os acolhesse, a gente lê muito as escrituras, a gente vê o amor de Jesus pelas pessoas na prática, não foi um amor de teoria então precisávamos fazer alguma coisa por eles, acreditamos que quando nós nos doamos de alguma forma às pessoas, estamos demonstrando um pouco de amor, de afeto pelas pessoas, um pouco do que Jesus fez por nós devemos fazer pelas pessoas também” conta José Carlos, emocionado.

 

A amizade é visível e a comunhão compartilhada entre as duas famílias inspira uma nação que despreparada, parece ainda não saber como lidar com os imigrantes. Se por um lado a família Santiago abriga refugiados que buscam uma nova vida, por outro lado brasileiros ainda se sentem incomodados com a presença dos imigrantes nas ruas e rodoviárias.

A tragetória de uma família que perdeu tudo por causa da crise na Venezuela, mas encontrou na amizade com uma família brasileira o apoio necessário para recomeçar.
Família Saavedra lembrando de suas vidas na Venezuela antes da crise
Ann Kath

12/06/2017 14:57

Foto:Juliana Siqueira

Foto:Juliana Siqueira

Amizade entre José Carlos e Miguel Saavedra Foto: Juliana Siqueira

Foto: Juliana Siqueira

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